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PASSEIO NA ROÇA

maio 11, 2014

 

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Saímos, minha esposa e eu, a passear sem rumo certo, pelas estradas de terra no entorno da pousada em que estávamos hospedados em Soledade de Minas MG.
Não andamos mais que 1km quando uma casa sombria, cercada por ciprestes e com ar de abandono nos atraiu a atenção. Passamos pelo portão de madeira, que estava aberto e passamos a explorar a casa pelo lado de fora.

Pelas vidraças pudemos ver que havia móveis, fogão, geladeira e algumas caixas de papelão empilhadas. Tudo indicava ser uma casa de campo utilizada esporadicamente por gente da cidade. Sentamo-nos na varanda, que dava para um bosque e nos imaginamos morando ali. Soprava um vento fresco. De olhos fechados e em silêncio, permanecemos um tempo que pareceu infinito.

O bosque em frente à varanda nos convidou para um passeio. Atendemos o chamado e descobrimos um caminho bem cuidado na parte mais baixa do bosque. Um caminho pede para ser percorrido, foi o que fizemos.

Não muito longe havia outra casa sem morador. À frente da casa um imenso gramado. No meio do gramado uma pirâmide de bambú. O local era mágico. Sem pensar, nos colocamos debaixo da pirâmide e nos energizamos. Havia magia no ar. Voltamos para a estrada principal.

Duzentos metros mais à frente, mais uma casa que parecia sem morador. Desta vez era evidente que se tratava de uma casa de gente da roça, pelo tipo de plantas no jardim, pelo paiolzinho esburacado e pela falta de árvores no pasto contíguo.
Já estávamos planejando entrar quando apareceu uma mulher caminhando pela estrada. Tratava-se da dona da casa. Conversa vai, conversa vem, ficamos sabendo que a mulher, dona Anésia, faz artesanato de palha de milho. Ficou encantada ao saber do meu interesse em fazer um video com o registro de seu trabalho. Gostou tanto da idéia que desmarcou um compromisso e agendamos a filmagem para o dia seguinte.

Seguimos adiante e avistamos uma porteira com uma placa com os dizeres: VENDE-SE ESTE SÍTIO. Batemos palmas e enquanto não nos atendiam, fizemos planos de nos mudar para o sítio. Veio até a porteira um senhor de seus 70 anos acompanhado de dois cachorros.Ele nos informou que o sítio não era aquele, mas sim terreno a alguns quilômetros dali. Enquanto eu assuntava com o velho, minha esposa foi ao pomar e apanhou laranjas azedas que estavam caídas ao pé da laranjeira. O velho ficou contente que alguém tivesse apanhado as laranjas, disse que estavam perdendo mesmo.

Seguimos um pouco mais adiante e minha esposa disse que queria voltar porque estava com vontade de fazer xixi. Eu apontei o mato da beira da estrada. Ela me disse que nunca havia feito xixi no mato e eu, muito surpreso por saber que uma pessoa de 52 anos nunca tinha feito xixi no mato, respondi que sempre existe a primeira vez. Ela me disse que tinha medo de cobra. Eu disse que ficava perto dela e a protegeria das cobras enquanto ela fazia xixi.

Fomos até um bambuzeiro e ela se agachou mas nada de sair o xixi. Ela falou que não ia conseguir, tinha que voltar para casa. Eu tive a idéia de que se ela se sentasse em minhas pernas, como se estivesse em um vaso sanitário, poderia relaxar e soltar o liquido. Deu certo, ela conseguiu nesta posição.

Continuamos o caminho mais algumas centenas de metros, mas o sol forte do meio do dia nos intimou a dar meia volta.

O ar estava abafado, era época da Quaresma e eu falei sem pensar que era bem provável que encontrássemos uma cobra em nosso caminho. Dito e feito, não deu 5 minutos e se não fosse eu agarrar e puxar os braços de minha esposa, ela teria pisado em cima de uma boipeva de mais de metro de comprimento.

Minha esposa deu um berro e grudou em mim. Eu pedi que ela se afastasse para não assustar a cobra e passei a tirar fotos com uma câmera do celular dela. Um cachorro que nos acompanhava, sem mostrar medo, acabou tocando a cobra que fugiu para o mato em frente da casa dos ciprestes.

A boipeva não é uma cobra venenosa, mas assusta e quando se vê acuada ela dobra de volume e se achata no solo, parecendo muito maior do que é. Decerto é algum mecanismo de defesa. Minha esposa me perguntou como é que eu sabia que íamos encontrar a cobra. Eu disse que não sabia, apenas senti que ela ia aparecer e ela apareceu. Minha esposa passou a usar botas depois deste encontro com a cobra.

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No dia seguinte fomos à casa de dona Anésia fazer o vídeo. Havia muitos parentes dela, talvez informados que a TV faria filmagens. Dona Anésia serviu café de coador, bolo de fubá caseiro e todos os parentes dela ficaram olhando a entrevista muito comportados. Foi um momento importante na vida deles e na nossa. É sempre emocionante presenciar a inocência e pureza das pessoas da roça, principalmente quando se sentem valorizadas pelas pessoas da cidade.

Fizemos um video didático sobre o trabalho de dona Anésia e prometemos voltar à casa dela para entregar um DVD com o filme. Ficamos sabendo por intermédio um amigo, o dono da pousada, que dona Anésia até já comprou um aparelho de DVD para assistir ao video.